25 vitórias e 34 derrotas. Esta é a campanha do Knicks na pausa para o jogo das estrelas. Evento que nosso único representante foi Obi Toppin no torneio de enterradas. Ele foi campeão e, de longe, o melhor dunker da noite.
Mas e o KNICKÃO? Bem, temos 07 vitórias a menos do que tínhamos depois de 59 jogos na temporada passada. Parece tão distante né? Julius Randle all-star e time ideal da liga. Derrick Rose batalhando pelo título de melhor reserva, Thibs reconhecido como técnico do ano pela segunda vez na carreira e RJ colocando seu nome como jovem em ascensão na liga. Nerlens Noel comandando a melhor defesa. Mando de quadra nos playoffs.
Nessa ano? Julius Randle quase expulso de NY. Fãs pedindo a cabeça do Thibs. Rose e Noel não ficam saudáveis. RJ desaprendendo a arremessar. Sofrendo para entrar no play-in. Mas o que aconteceu? Por qual motivo o Knicks não entregou o que os fãs esperavam?
Bem, primeiro que as expectativas dos fãs (inclusive desse que vos fala) eram mais altas do que os analistas imparciais e especialistas esperavam. Enquanto muitos de nós acreditavam que séria possível pegar mando de quadra direto, outros achavam que dava pra pegar playoffs direto (eu), mas a percepção geral (não clubista) era de um time que batalharia para chegar em 50% das vitórias na temporada e lutaria para uma vaga no topo do play-in (7º e 8º).
Porém mesmo considerando o cenário de Vegas, 41 vitórias, ainda estamos abaixo do esperado. Sei que muitos queriam (e ainda querem) que eu fosse apontar dedo para algum nome específico. Mas já vou dar um spoiler de como será o texto: isso não vai acontecer. O time não está assim só porque o Randle regrediu ou só pelo Thibs ser teimoso. Ou só pelas contratações terem dado errado. É o conjunto de tudo. É culpa das três partes não estarem na mesma página.
“Tá. Mas onde que deu errado? Onde começou a dar errado? Como deu errado?”
Como um Digimon sábio uma vez disse no filme homônimo: volte ao começo. Que começo? Agência livre. E a partir daí a gente vai recapitulando todos os passos.
Eu já expliquei para vocês que o foco do time foi ir atrás de jogadores capazes de chutar saindo do drible. Deuce McBride e Quentin Grimes foram ótimos nisso durante o college. A preferência pelo Alec Burks ao invés do Reggie Bullock. A contratação do Evan. A busca por jogadores capazes de criar seus chutes quando necessário era vital para complementar o Randle (aquele Randle) depois de ver como Atlanta explorou a incapacidade de Bullock de colocar a bola no chão e criar algo.
Mas o principal problema do time desde os anos 2000 continuava sem solução: um armador. Parecia que o Knicks não estava disposto a se comprometer a gastar mais do que deveria com jogadores como Reggie Jackson e Spencer Dinwiddie. Dennis Schroder era o único nome relevante quando Kemba Walker se tornou um agente livre irrestrito via dispensa de Oklahoma.
Eu não sou fã do Dennis e comemorei a contratação do Kemba no lugar dele quando foi anunciado. Mas, agora, enxergo que talvez nossa temporada tenha começado a desandar ali. Kemba era o exemplo perfeito do que o front office buscava em um armador: excelente nas bolas longas, capaz de chutar no catch e saindo do drible e capaz de criar (deveria ser) no pick n roll. Dennis, por outro lado, nunca foi um grande shooter, mas não é um anão e, ao menos, tenta na defesa.
Kemba era uma versão paraguaia do jogador que eles tinham acabado de contratar no Evan. Ficou redundante. E Kemba passa longe de ser um armador dos moldes do Thibs. Não dá para sabermos o nível de voz que Thibs teve sobre a contratação do Kemba, mas aposto que ele preferia outros nomes. Até sobre a contratação do Evan para ser sincero. Mas são especulações minhas.
Chegamos na temporada. Um Knicks todo repaginado, com um ataque diferente do ano passado, visando muitos chutes de três e que escolheu abrir mão de uma identidade defensiva para oferecer criadores secundários e terciários para Julius Randle.
Ai começaram as primeiras dificuldades. Randle e Thibs incorporarem dois novos jogadores que são incapazes de criar algo sem a bola. Para jogar do lado de um RJ que é fã de ficar assistindo o ataque muitas vezes.
Um erro de visão claríssimo da diretoria. Randle precisava soltar a bola. Parar de fazer aquilo que o colocou no top8 da votação para MVP. O time não tinha um cutter. Quando Randle recebia a bola no post, todo mundo parava para assistir. A diretoria não considerou que Bullock era bem melhor que os dois ex-celtas em se reposicionar para receber um bom passe.
Randle começou a parecer desinteressado. Sem aquela vontade gigante que tinha. Preguiçoso na defesa e desligado nos dois lados da quadra. Parecia que ele estava chateado de não ser mais a única opção, como se a diretoria não confiasse nele e isso tivesse jogado ele para baixo. Zero desculpas. Jogador mais bem pago do elenco não pode desistir de jogar por isso. Ficou claro que ele sozinho não conseguiria trazer sucesso para o time.
Nesse meio tempo, RJ Barrett não sabia sua função. Ora apenas ficava esperando no corner. Outra segurava demais a bola. Zach Lowe colocou o canadense (em alguma edição do seu podcast) como um dos jogadores que ele estava curioso para ver como iria se sair durante a season por estar sem entender seu papel.
Com a regressão de aproveitamento de Randle, o Knicks se tornou um conjunto de criadores auxiliares sem um criador principal. Se tornou um time que viveria e morreria dependendo do aproveitamento de longa distância. E com 4 defensores ruins no time titular.
Nerlens Noel não conseguiu até agora ficar saudável e Mitch chegou para a temporada sem ritmo. Nerlens seria um pivô que poderia esconder mais as fraquezas defensivas do Kemba e Evan já que ele se sente mais confortável sendo mais agressivo no ball handler de um pick n roll e se reposicionando depois dando mais tempo para os ex-celtas se acharem do que o Mitch que fica mais afundado no garrafão.
Derrick Rose, nosso único armador decente no elenco e jogador mais importante para funcionamento do time, lesionou. Nos minutos que ele estava em quadra, o Knicks jogava como um time para mais de 60 vitórias na temporada.
Voltemos as bolas de três. Knicks adicionou shooters e saiu de um time que tentava 30 bolas de três/jogo para um que tenta 37. Mas com um aproveitamento pior.
Todos os nossos principais shooters do ano passado pioraram em relação a atual temporada. Randle e RJ principalmente. O canadense só começou a se encontrar em 2022. Nos três primeiros meses da temporada, acertava 32% dos seus chutes. Em 2022, 39%. Obi é o pior jogador da NBA em aproveitamento dentre aqueles que tentaram 90 chutes. E dentre aqueles que tentaram 70. a diretoria não poderia prever uma regressão tão forte nos aproveitamentos.
O Knicks, então, se encontrava com um time ruim defensivamente e ofensivamente, não aproveitou a parte fácil do calendário e com seus dois principais jogadores do ano anterior jogando muito mal. Thibs, então, decide sacar Kemba Walker da rotação. Talvez, tenha sido aqui que o vestiário rachou. Não rachar no sentido de todo mundo se odeia, mas no sentido de criar dois grupinhos.
Evan Fournier expressou de forma intensa sua insatisfação com a diretoria sobre o tratamento que seu PARÇA KEMBA estava recebendo pelo técnico e que acreditava que outros jogadores não estavam sendo submetidos ao mesmo crivo de análise. Traduzindo: ele ficou revoltado que Kemba estava sendo punido sendo que Randle também estava mal.
Ele não estava errado. Kemba era/é horrível, tirando alguns poucos flashs parece pior que o Payton. Randle, por outro lado, estava péssimo também. O Thibs deveria ter punido o Randle na mesma forma? Acredito que não. Julius ainda é o melhor e mais importante jogador desse time e se o Thibs queria ter a mínima chance de ganhar algum jogo nessa season, ele precisaria recuperar o Randle. Tirar o Kemba era uma estratégia válida para tentar.
Spoiler alert: Knicks continuou perdendo mesmo sem ele em quadra numa sequência brutal do calendário mas a defesa melhorou na sua ausência. Thibs implementou mais trocas já que não havia um anão pequetucho em quadra e o time parecia mais coeso nesse lado da quadra. Randle e Evan1 ainda péssimos, mas Alec Burks é melhor que Walker.
Chegamos ao ápice da COVID na NBA, Knicks sem diversos jogadores, Rose fora por lesão e Kemba volta para a rotação. Tem 4 bons jogos e ganha o prêmio de jogador da semana. Aí volta a jogar mal e se lesiona. Durante essa lesão, Knicks vive o melhor momento da temporada, ganha 5 de 6 jogos. Kemba se recupera e o Knicks ganhou 2 jogos com ele em quadra desde então.
A reinserção do Kemba trouxe os velhos problemas à tona. Defesa piorou. Reforçou a irrisória flexibilidade do Thibs em rotações. E prejudicou RJ. Os melhores momentos do RJ vieram quando ele, sem Kemba do lado, no final do ano passado teve mais responsabilidade como criador. Começou a bater para dentro do garrafão mais vezes, ainda sem um ótimo aproveitamento, mas seu volume de jogo melhorou muito, cavando mais faltas e ganhando ritmo durante a partida.
Aí apareceu uma oportunidade de mercado. A diretoria trocou uma pick mais ou menos de primeiro round por Cam Reddish e uma escolha de segundou round. O atleta não recebeu minutos até RJ e/ou Quentin Grimes estarem lesionados. Em português claro: Cam Reddish é o nosso pior ala. Mas ele tem um potencial que faz scouts ainda especularem o que ele pode vir a ser na liga.
Só que o Thibs não liga pra isso. Ele não foi contratado para desenvolver catarrentos. Ele foi contratado para vencer jogos. Só que desenvolver o Cam pode ajudar o time vencer jogos em 2023-24, seja por ele ser um atleta melhor ou por ser envolvido em uma troca por um nome melhor.
Thibs é teimoso. Thibs não é inovador em rotações. Thibs vai sempre preferir um veterano nota 6 a um novato nota 6. Mas ele é o mesmo técnico do ano passado. Ele não desaprendeu a treinar um time de um ano para o outro. Ele e a diretoria precisam chegar na mesma página. Eles o contrataram para vencer jogos. O elenco não encaixou. E agora? Longo prazo? Reconstrução. Esse time chegou no teto. Talvez a volta do Rose ajude, mas quanto ele consegue ajudar faltando, mais ou menos, 20 jogos?
Estamos performando abaixo do esperado? Sim. Randle regrediu. RJ regrediu. Contratações da diretoria não deram certo. Gestão do Thibs não está ajudando. Só que a temporada é uma decepção muito maior pelas nossas expectativas. O time não decolou por não estar destinado a decolar.
O time se montou para um Randle time ideal da liga. Ele não chegou. Nosso técnico não soube se adaptar a realidade - pela sua própria teimosia e pelo elenco com pouco brilho - e a diretoria preferiu apostar no futuro do que melhorar esse ano. O foco ainda é a agência livre de 2023-24. Mantiveram a flexibilidade que estavam prezando desde o início.
A culpa cai no Mitch que chegou sem ritmo. Cai no Thibs que preferiu manter Alec Burks como titular quando Immanuel Quickley estava muito bem. Culpa cai na diretoria que não trouxe versatilidade para o elenco. Culpa cai no Randle que, ainda, joga com preguiça na defesa. A culpa cai na diretoria que não trouxe um armador. A culpa cai na saúde do Noel e do Rose. Culpa cai no Thibs que deixou RJ no último minuto de uma derrota por 15 pontos e o canadense lesionou.
Nenhuma decepção desse nível acontece por culpa do fulano ou do ciclano. É o conjunto. Knicks tomou uma abordagem de baixo risco, mas com alto retorno com Kemba: deu errado. Apostaram que Randle não pioraria tanto: piorou mais. Knicks pode escolher fazer como o próprio Thibs fez com Kemba e colocar o técnico como bode expiatório pelo fracasso da temporada. Seria só o 11º técnico seguido a não chegar no segundo contrato com o Knicks.
Nada disso importa mais. O time precisa ficar na mesma página. Atletas, comissão técnica e diretoria. O exemplo mais recente: último dia da janela de trocas. Pelos rumores, Knicks tinha negociações avançadas em duas frentes: Cam e Burks pelo Dragic mais compensação de draft e/ou Mitch Robinson por escolhas de draft. Nenhuma foi para frente pois o time não achou a compensação final justa.
Porém, vamos olhar o que essas trocas prezam: compensação via draft e/ou flexibilidade no CAP. Não são trocas para melhorar o time para uma última chance no play-in. A diretoria está pensando no futuro. Thibs em vencer o Heat na sexta dia 25. Segundo rumores, ele ficou frustrado de não ter chegado ninguém novo no time pós deadline.
E os jogadores? Se depender do esforço defensivo da maioria dos atletas acho que estão pensando nas férias.
Sobre a pergunta inicial, não tem resposta certa. Cada um vai pesar aquilo que achar mais importante. Eu posso acreditar que a diretoria ter contratado Kemba e Evan foi um erro incomparável. Eu também posso achar que a abordagem vergonhosa do Randle na defesa é o principal problema. Ou eu posso achar que o Thibs tem toda a culpa no cartório por não conseguir criar um ataque incrível. Posso achar que a diretoria errou em dar mais uma chance para esse elenco do RJ e Randle e que deveriam ter trocado todo mundo ano passado e só dar minutos para os jovens. Ou eu posso achar que a culpa é do nosso DM que não deixa o Noel e Rose saudáveis.
Eu posso ficar aqui até amanhã só enumerando motivos. Desculpe aos leitores que chegaram até aqui acreditando que eu iria ter a revelação que tudo começou a dar errado na quarta-feira, 10/11/2021, quando o Brock Aller mordeu uma maça e quebrou um dente. Não funciona assim. Nem no time do ano passado dá pra explicar o motivo do sucesso. Não foi só o Randle. Não foi só o Thibs. Não foram as contratações e trocas ótimas que a diretoria fez naquele momento. É o todo. E o Knicks de 2021-22, como um todo, não passou perto de funcionar.
No basquete, se ganha como time. E se perde como time.
Evan é um excelente shooter para a posição. Está decepcionando na defesa (já vimos que quando ele tenta, fica nota 4/10).