No resumo semanal 04, fiz um breve resumo de como funciona nosso esquema defensivo. Nos últimos dias, um seguidor comentou que o Knicks quase não usa e que deveria ter mais jogadas de pick n rolls. Considerando que o Knicks baseia-se inteiramente o ataque nessa jogada (fomos o 3º time com mais P&Rs nas últimas duas temporadas), achei que seria interessante conversar mais sobre o ataque do Knicks. Será que Thib está parado no tempo como seus haters dizem? Será que ele que gosta de ver um ataque sem movimentação? Vamos conversar um pouquinho mais sobre isso.
Pick & Roll
Como disse, o Knicks ama jogadas de pick&roll e sua frequência, desde que o Thibs assumiu, sempre está nas alturas.
“Mas por qual motivo Thibs gosta tanto desse tipo de jogada?”
Bem, a filosofia do nosso coach é que o melhor ataque é quando existe uma grande pressão no aro podendo gerar cestas ou passes pra fora que permitem arremessos ou outro atleta atacar uma defesa já bagunçada. E o pick n roll permite isso. Força uma troca de marcação e pode gerar um miss match vantajoso. Sofrer faltas. É a jogada mais simples do basquete.
“Ih, admitiu que o ataque é simples”.
Não vou fingir que é um ataque todo emperiquitado com vários bloqueios fora da bola ou incontáveis variações. Não é. Mas não é só esse jogo de 2 contra 2 que querem fazer parecer. Obviamente, não vou destrinchar o playbook do Knicks aqui, primeiro, porque não acho que sou capaz, segundo, seria maçante e, por fim, ficaria um texto gigantesco. Mas vou trazer alguns conceitos/variações que o Knicks utiliza e como isso ajuda a tornar o ataque menos previsível e mais dinâmico.
A primeira variação e, com certeza, uma das jogadas mais usadas pelo NYK é o Spain Pick&Roll. Quem leu o primeiro resumo semanal da temporada já está ciente de como o time vem abusando da jogada desde a pré-temporada.
Para quem está perdido, Spain P&R consiste num segundo bloqueio, nas costas do big que fez o bloqueio original e esse jogador que fez o segundo bloqueio corre para o perímetro criando uma opção de chute - o que confunde a defesa. “Eu marco o bom chutador de três ou reforço o garrafão contra um lob para o pivô?” E é uma jogada muito efetiva com um ball handler inteligente e que já atrai, por si só, muita atenção da defesa como JB.
Outro conceito que o Knicks continua usando nos seus pick n rolls, principalmente os com Randle, são os chamados empty side pick&roll. Como o próprio nome já diz, é um bloqueio feito com apenas os envolvidos na jogada no lado forte da quadra e os outros três atletas do outro lado.
Essa jogada costuma ser mais efetiva se os outros defensores não puderem engajar na ajuda para o roll man, mas como o Knicks não tem grandes chutadores (:O) a ajuda vem fácil. O time, porém, começou a utilizar bloqueios fora da bola para impedir a ajuda fácil da defesa. É um conceito que o Nekias chama de estressar a a ajuda. É algo simples mas que busca gerar mais espaço e confundir a defesa sobre ajudar ou não no pick n roll que está acontecendo do outro lado da quadra.
Observem JB mandando Evan ir para o outro lado para permitir que apenas ele e JuJu operem ali. Olhem o “““““““bloqueio”””””” do Mitch. Praticamente inútil? Sim. Mas o Thibs começou a temporada usando mais esses bloqueios fora da bola para confundir a defesa. A frequência diminuiu um pouco nos últimos jogos (sem estatística, estou falando de observação de telespectador). Pode ser pela lesão do Mitch ou pela nossa maior ameaça de perímetro Evan não estar jogando (defende ninguém).
Antes de mudarmos para o próximo tópico, esse tipo de bloqueio ajuda a ilustrar o motivo do Mitch ser a dupla de pick n roll com Brunson menos eficiente do time.
Pegando um gancho na jogada acima, vamos conversar sobre:
Movimentação sem a bola
O Knicks é um time que se movimenta pouco fora da bola. Isso é culpa do Thibs? Sim! Mas a culpa passa longe de ser dele sozinho.
Não existe um contra factual pra gente saber se o time teria um ataque com mais bloqueios fora da bola e mais jogadores correndo pra lá e pra cá caso o técnico fosse outro. Mas existe um jeito de sermos mais fidedignos com nossa análise. Conversaremos a seguir sobre algumas estatísticas e todas sob três óticas: como os jogadores que estão sob comando do Thibs desde o início flutuaram, como eles eram antes do Thibs e como os jogadores que chegaram agora comparam-se com seu uso antes.
Primeiramente, é óbvio que a função dos atletas pode variar entre os anos dependendo do resto do elenco. A inserção de um atleta como Jalen Brunson muda muito a função de quem tinha o costume de ficar mais com a bola na mão (leia-se JuJu e RJ).
A primeira coisa que chama nossa atenção nessa tabela é como todos os jogadores que estavam no Knicks na temporada passada aumentaram seu percentil nessa estatística que mede a porcentagem de posses do jogador que são decorrentes de bloqueios fora da bola e cortes para a cesta nesta temporada. Isso pode ser, simplesmente, um efeito natural da adição de um jogador dominante como JB. A redução do número do armador, por outro lado, é totalmente esperada. Ele deixou de ser coadjuvante de um dos melhores jogadores da liga para ficar mais tempo com a bola na mão.
Entretanto, podemos ver que quase nenhum dos jogadores com mais minutos no time tem o costume de se movimentar muito pelos bloqueios e fazer cortes. Sobre as novas* adições, Hartenstein está no seu pior momento, Cam está numa ótima crescente e Evan voltou a o patamar que tinha em 2018-19 depois de um ano bem abaixo. Outro fato interessante é como Randle - que já vinha numa tendência de queda - assumiu a questão de ser muito dominante na bola com chegada do Thibs e mostra aumentos pequenos no quesito movimentação sem a bola.
Então, além de termos um técnico que não busca envolver muito seus jogadores fora da bola, as contratações da Front Office reforçam este hábito. Por exemplo, peguemos o grupo dos nossos alas e guards, e apenas Evan - que não está jogando pela defesa péssima - é acima da média nessa questão. Rose, IQ, RJ, Cam e Grimes (que não está aí por não haver valores de 2023 ainda) nunca mostraram valor real em se movimentar sem a bola.
Nenhuma estatística é perfeita. Por isso, vamos complementar nossa análise olhando para Movemente Impact/75, que mede o impacto das posses sem a bola dos jogadores, e Movemente Distance Rate%, que mede a distância em relação aos pares de posição:
Primeira coisa que nos chama atenção é o reforço de que os atletas nova iorquinos não tem uma histórico de se movimentarem muito - os percentis mais altos que temos em relação às distâncias percorridas anteriores a 2023 é 61. Na temporada 2018-19, Randle e Evan estiverem mais altos nessa métrica, mas as funções que executavam em quadra eram bem diferentes. Outra coisa que chama atenção é TODOS os atletas do gráfico estão no maior percentil nesse universo de 4 anos da análise - o que reforça que Thibs está tentando fazê-los se movimentar mais, mas eles não são muito bons nisso.
Aí entra o nosso eixo X do gráfico. Dos 10, apenas Obi e Mitch estão com impacto muito acima da média. Randle e JB acima da média. Por exemplo, procurem o RJ/2023, apesar dele estar se movimentando mais, ainda é extremamente ineficiente nesse tipo de jogada.
Falando em jogada, os leitores da newsletter já estão acostumados com um set que está sendo super parte do nosso repertório. No resumo semanal 4, comparei duas variações do set - resultando num lob para Obi e numa drive para o RJ. A seguir, mostrarei as duas e uma terceira. Se você é leitor assíduo, pode já pular para o 3 clipe.
O armador passa a bola para o ala/ala-armador (que, na maioria das vezes, já recebeu um bloqueio sem bola), recebe um bloqueio sem a bola cortando para a cesta, o big que fez o bloqueio, se redireciona para a zona morta e faz um novo bloqueio sem a bola para o ala. O big corta para a cesta sendo opção para ponte área:
Ou o ala continua o movimento e cria um bom caminho para infiltração:
A NBA resolveu cortar o início da jogada no clipe e mostrar os atletas voltando para a defesa, mas vamos lá. Rose passou para IQ e parecia que estava fazendo o corte em direção a cesta e Sims se direcionando para o bloqueio sem a bola no RJ, porém, foi uma nova variação. RJ e Rose fazem bloqueios para o pivô e Sims recebe uma ponte área linda do IQ.1
O que esse tópico nos mostrou? Que Thibs está tentando colocar mais movimentação e bloqueios fora da bola na jogadas, mas, ainda assim, não é a sua maior característica como técnico e nem o perfil dos atletas. O nosso maior problema não é a falta de jogadas com pin downs ou flare screens e, sim, a passividade dos atletas durante os post ups e isolations.
Continuaremos nossa conversa na parte 2! Amanhã cedinho já estará no e-mail.
A primeira pessoa que vi pontuando que era uma variação da jogada foi o Tom Piccolo