Knicks @ Cavs - Os playoffs de 2022-23
O que esperar da primeira série do Knicks nos playoffs
O Knicks terminou a temporada com uma campanha de 47 vitórias e 35 derrotas. Vegas nos colocava com 38. 9 vitórias a mais. Julius Randle terminou com 25 PPG, 10 RPG e 4 APG. Jalen Brunson com 24 PPG, 3.5 RPG, 6.2 APG. RJ com 19,6 PPG e 5 RPG. Quem foi o MVP da temporada para o Knicks? Quem foi o melhor defensor? E o jogador que mais evoluiu? Todo esse debate no novíssimo episódio do podcast da Rádio Knicks:
Ironia do destino? Roteiro de Hollywood? O time que queria trocar pelo Donovan Mitchell e o que trocou pelo Donovan Mitchell se enfrentarão no primeiro round dos playoffs de 2022-23. A NBA é incrível. Obviamente, a torcida da Rádio Knicks será para um 4 a 0 fácil para os comandados do Sir Thibs. Entretanto, o buraco é mais embaixo. Não somos favoritos na série, mas temos plenas condições de avançar. O objetivo desse texto é passar por alguns pontos que acho que serão cruciais para o nosso sucesso.
Eficiência no ataque
Comecei a escrever esse texto com três jogos restantes na temporada regular, portanto, nossos números finais podem ser diferentes daqueles que apresentarei aqui, mas não será nada que mudará a análise.
O Knicks terminou a temporada com um ataque top 5. Isso é surreal para um time com poucos chutadores eficientes de três, com pouca movimentação sem a bola e na metade inferior em contra ataques. Como isso foi feito?
Um dos maiores méritos do Thibs desde que chegou em NY. Ajuste preciso do nosso shot profile, a nossa dieta de arremessos. No primeiro ano dele como técnico do Knicks, éramos o 6º time da liga que mais tentava chutes na meia distância longa (pensem no lugar que o Carmelo costumava chutar) e 24º em chutes de três. Na temporada 2022-23, somos o 11º em bolas de três, 4º em corners 3s, e 26º em bolas longas de meia distância.
Mesmo que o Knicks não seja um time que finaliza muito no aro (16º), estamos no top 10 em finalizações no short mid range - a meia distância curta.
“Mas, Alexandre, chutes de meia distância não são ruins? Não devíamos abandonar tudo e apenas fazer bandejas e bolas de três?”
O Knicks também está no top 10 em eficiência nesse tipo de chute. O mais importante, porém, é o que esse tipo de chute gera: rebotes ofensivos e faltas.
O time de Nova Iorque é o 9º em lances livres em relação aos chutes por jogo. Randle está sofrendo faltas em 15,5% dos seus chutes (maior marca desde que chegou em NY). Brunson está com a maior marca da carreira (12,9%). RJ com 15,4% (maior marca da carreira). IQ também está com a maior marca da carreira. Esse grande volume de FTs ajuda e MUITO o Knicks manter um ataque com muitos PPG mesmo sendo 20º em eficiência.
Outro ponto que ajuda muito nosso volume de pontos são os rebotes ofensivos gerados por chutes errados de short mid range.
Não à toa os times com mais rebotes ofensivos são os que mais chutam dessa área. E o Thibs percebeu que eles tem um talento incrível nos rebotes ofensivos no Mitch. Em três dos quatro confrontos contra o Cavs, o Knicks conseguiu impor sua vontade na tábua ofensiva. O único que isso não ocorreu foi no jogo em 24/01, que Mitch não jogou. É vital, portanto, que ele se mantenha longe de problemas com faltas para que o ataque do Knicks se mantenha com essa arma.
As faltas sofridas, entretanto, são um problema que eu acho com difícil solução. Em nenhum dos jogos o Knicks bateu mais de 25 FTs (a média do time é 25,6). Cavs conta com dois bons defensores de garrafão e um deles nem se transpira para marcar jogadores mais rápidos. Mesmo que os guards sejam vencidos nas infiltrações, Jarrett Allen e Evan Mobley seguram as pontas.
Duas das três vitórias do Knicks contra o Cavs na temporada vieram de atuações bem acima no quesito eficiência por parte do Knicks. Precisamos compensar esse número menor de faltas de alguma outra forma do que depender do ponto seguinte desse texto.
Jalen Brunson e Donovan Mitchell
Não é surpresa para ninguém que Donovan Mitchell não consegue marcar Jalen Brunson. Dallas começou a estratégia de procurar o Spida na quadra para o JB cozinhar e o Knicks só manteve.
Em média, Brunson utiliza de isolations em 13,2% das suas posses. Mais ou menos 2,9 por jogo e acerta 50% dos chutes (54,5 de eFG% e 1,10 PPP). Não tenho acesso aos números do Brunson contra o Cavs nessa temporada (o pacote do Synergy para tanto é 40 dólares e aí fica demais para o pacato escritor de newsletter), mas comparando que, jogando por Dallas e contra Utah, Brunson usou isos em 20% das suas posses e foi o 2º em pontos em isos no primeiro round. E falando como quem assistiu todos os jogos que ele já jogou pelo Knicks - é evidente que sua frequência de isos contra o Cavs e Spida é bem acima do resto.
Apesar de Donovan ser um alvo querido do nosso armador, é importante que o Knicks mantenha a defesa do Cavs engajada movimentando a bola e alimentando nossos chutadores para que a ajuda nele quando ele vença o Mitchell não seja tão fácil. Ainda mais em um cenário de Randle voltando de lesão.
Julius Randle
No dia 30 de março, o Knicks anunciou que Julius Randle seria reavaliado sobre uma torção no tornozelo esquerdo em duas semanas. Que dá dia 13 ou 14 de abril. Os playoffs começam dia 15. Mesmo se ele for liberado para o jogo depois de apenas duas semanas, estará sem ritmo e, talvez, com menos explosão.
Juju foi eleito all-star e estava no caminho para mais um time ideal da liga reduzindo chutes de meia distância longa e os substituindo por bolas de três. Além do seu costumeiro modo trator - em que ninguém consegue trombar com ele no garrafão.
Quanto dessa explosão será que veremos caso ele volte? Apesar do mundo estar esperando o pior dele pela atuação pífia na série contra o Hawks em 2020-21, estou realmente preocupado dele não voltar 100%.
O que impactará, com certeza, outra faceta do seu jogo: sua defesa.
Contra um time com tanto poder de fogo no perímetro e com RJ horrível para batalhar entre os bloqueios, um Randle que evita trocas e prefere assistir a defesa do garrafão pode ser uma perdição. Mesmo que o exemplo a seguir não seja culpa 100% dele, é um exemplo preocupante:
Mas principalmente em cenários que a troca acontece e ele entra em economia de bateria e assiste o que está rolando:
O melhor Randle é o Randle engajado na defesa e que faz trocas. Talvez essa lesão no tornozelo o influencie, mesmo que inconscientemente, a poupar a saúde um pouco. Estou realmente preocupado com a volta do Randle pós lesão. Será que a explosão vai ter diminuído? Será que a cabeça estará boa ou ele focará muito com a arbitragem caso não consiga ser o mesmo Randle pré lesão?
Apesar do medo, eu tenho fé que ele vai dar 100% do que ele tiver.
Rowan Alexander Barrett Jr
Na dúvida de qual Randle teremos na pós temporada e com consciência de que Brunson será um foco gigante da defesa adversária, o Knicks precisará muito do RJ.
Por algum motivo,1 RJ não tem números chamativos contra o Cavs nessa temporada. Se ignorarmos Suns (só jogou 1x) e Dallas (lesionou no início do 2º jogo), os 15 PPG contra o Cavs é a 4ª pior marca contra um time nessa temporada e as 1,3 APG por jogo é segunda pior marca. O fato do Brunson ter grande volume de jogo atacando Spida também explica um pouco esses números causando RJ ter, contra o Cavs, seu menor USG% . Entretanto, em uma série de playoffs e com um Randle não 100%, precisamos que Rowan consiga finalizar com qualidade, batendo muitos FTs e não sem conseguir finalizar contra Cedi Osman.
Apesar de preocupado com sua eficiência, a parte do jogo que eu acredito que o RJ precise subir de nível para termos mais chances de vencer é a sua criação para os outros. Olhemos esse set de pistol simples que o Knicks usa e abusa para permitir que RJ infiltre usando a canhota:
Ele rejeita o primeiro bloqueio, Sims já se ajusta e faz outro e como Donovan está mal posicionado, Mobley recua mais do que deveria e deixa Randle livre para carimbar a bola de três. Essas leituras rápidas e decisões corretas precisam estar no melhor nível possível. São as chamadas rim reads que o Thibs sempre bate na tecla. O objetivo do nosso ataque é chegar no garrafão, se tiver um chute livre, chutar. Se não, passar para alguém livre.
Se o tamanho dos defensores no garrafão do Cavs complicam a vida dele finalizando, deveria ser um time que ele mostra mais lances como esse na jogada chamada pelo coach:
Vencer o marcador na velocidade e, quando a ajuda chegar, passar para o pivô livre. Apesar disso, não são poucos momentos que ele é vencido por defensores maiores que deveriam ser mais lentos. Ignorem a demora do passe do Deuce e foquem na incapacidade do RJ vencer o Dean Wade no 1x1:
Nós precisamos do melhor RJ possível. Se ele não entregar o que o time precisa, não duvido Thibs dar ainda mais minutos para Grimes, Hart ou IQ. O que nos leva para o próximo ponto.
Batalha dos reservas
O banco do Knicks é um dos melhores da liga. Liderados por Immanuel e Josh Hart, o time de NY precisa vencer os minutos sem as estrelas em quadra. Sabemos que nos playoffs as rotações ficam mais curtas e os titulares jogam ainda mais minutos, mas o banco do NYK traz uma variação um pouco mais intensa do que o Cavs consegue colocar em quadra (apesar de eu achar o banco do Cavs desvalorizado pelo torcedor médio da liga).
Hart, além de aumentar a frequência de contra-ataques do Knicks (+ 3,1%) e melhorar a movimentação de bola no ataque 5x5, é um defensor ágil e forte que consegue dificultar a vida do Donovan. No clipe abaixo forçou a falta ofensiva antecipando o movimento do Mitchell:
Além disso, ao ficar responsável por defender o Spida, Hart libera Grimes para defender Garland. Nosso sophomore é um bom defensor, mas Hart é mais experiente e um pouco mais forte. Assim, Grimes consegue mostrar sua defesa no Garland.
O nosso outro bancário que terá grande papel na série é o IQ. Candidato fortíssimo ao prêmio de sexto homem da temporada, IQ é um excelente navegador de bloqueios, bom shooter e está crescendo como passador. Contra um time com tantos shooters bons saindo do drible, sua presença é vital para evitar chutes de três livres como vimos no clipe do pick&roll envolvendo RJ e Randle. E pode ser um desafogo bom para Brunson. Como vimos no segundo clipe desse texto, Cavs tem costume de colocar um defensor maior para defender o Brunson. Okoro - um ótimo defensor - deve ser responsável por marcar JB e ele tem um histórico de dificultar a vida do nosso armador:
Ter IQ espaçando a quadra dificulta uma ajuda já que ele está acertando seus chutes de três recentemente e pode agir como playmaker secundário caso Brunson mostre-se com muitas dificuldades.
Se curtirem o texto, vou soltar outro com alguns pontos menos importantes que não couberam nesse primeiro e-mail.
Minha teoria é que eles são grandes e dificultam a capacidade do canadense em pontuar com facilidade no garrafão