Isolations e o New York Knicks
O nome assusta e faz as pessoas pensarem em ataques ruins. Mas vamos entender um pouco mais?
Seja no Twitter (X é nome de site indecente) ou em grupos no WhatsApp, sempre que o assunto Isolation surge, é muito comum ler coisas que partem de uma premissa muito errada sobre formas de atacar no basquete, eficiência e estratégia. A ideia desse texto é trazer algumas informações a respeito desse tipo de jogada e como entender melhor sua função em um time como o New York Knicks. Estou testando uma escrita mais direta e com mais tópicos. Espero que seja efetiva para passar as informações.
Conceito
Isolation, ou iso, de forma muito simplista, é uma jogada um contra um. Só que existem isos e isos, mas as pessoas costumam tratar todas da mesma forma. Como abordaremos no decorrer do texto, por exemplo, um jogador atacar todo maluquinho um defensor bom é uma coisa e um set específico para dar ao jogador de basquete com a bola espaço para criar um confronto favorável ou atacar um defensor ruim é outra totalmente diferente.
Knicks
Na última temporada, o Knicks foi o time com 3º maior número de posses ofensivas como Isos e o 4º em frequência relativa ao total de posses. Olhando a liga como um todo, o NYK foi o 7º em eficiência nesse tipo de jogada - o que é ótimo, mas que não é o melhor indicador porque times com muito menos posses tendem a ser mais eficientes. Se filtrarmos pelos times com, pelo menos, 8 posses de Isos/partida, o Knicks é o 4º mais eficiente:
E este grande volume de isolations eficientes é fruto de termos dois excelentes pontuadores em situações de um contra um: Julius Randle e Jalen Brunson:
O gráfico acima cruza os percentis de volume de isolations em 75 posses (eixo X) e os percentis de eficiência nessas isos (eixo Y). Brunson está quase no percentil 100 no quesito eficiência com um bom volume e Randle, sendo um dos que mais tenta isos na liga, é muito eficiente nessa jogada. Além da simples eficiência vista acima, cada jogador impacta o ataque do Knicks de forma mais profunda com suas isos como veremos a seguir.
O ataque do NYK
O New York Knicks teve o segundo ataque mais eficiente da liga na última temporada com um eFG% péssimo (20º) e com uma eficiência na bola de três pior ainda (21º). Como? Três motivos principais e dois estão atrelados diretamente com as jogadas de um contra um: baixíssima frequência de turnovers, alta frequência de FTs e muitos rebotes ofensivos.
Sobre o primeiro ponto, Jalen Brunson não comete turnovers. Um jogador com quase 30% de USG% gerar turnovers em menos de 9% de suas posses é incrível e se considerarmos seu tamanho compacto é ainda mais surreal. Esse cuidado com a bola se mantém em suas jogadas de um contra um: só 12% das suas isos viram turnovers (a média do Knicks na temporada foi de 13,1%). Juju, por outro lado, comete turnover em quase 19% das isos e é o seu principal problema nessas jogadas, mas que está muito relacionado a seleção de chutes.
Julius Randle sofre faltas em 15% das suas jogadas de isolation - uma das maiores marcas da liga. Isso é de importância gritante para o Knicks como um todo já que ter adversários carregados de falta gera mais FTs não apenas para o Juju. E arremessos da linha do lance livre ainda são um dos tipos de arremessos mais eficientes na liga. Brunson sofre faltas em 7% das suas isos.
Ambos, de forma indireta, auxiliam os rebotes ofensivos já que parte significativa de suas isos costumam ocorrer na zona do short mid range - que é perfeita para Mitch garantir seus rebotinhos.
Entendendo que existe mais de um tipo de Iso
Se você assiste frequentemente os jogos do Knicks, você já se deparou com uma situação assim. O time chegando no ataque e o Randle decide atacar o marcador porque um bichinho no ombro dele falou que era o momento:
Não me entenda errado. Essa agressividade dele força as defesas estarem sempre preocupadas e, assim, geram mais linhas de passe e ele acerta uma quantidade suficiente desses 1x1 da cabeça dele para ter um pouco de crédito.
E, claro, que mesmo aquelas Isos que começam com a gente xingando o Randle por estar atacando um excelente marcador, podem acabar com bons passes no perímetro:
Porém, a grande questão é que o melhor iso Randle é o iso Randle que o Thibs decide o momento e que aparecem no fluxo do jogo. O que bons técnicos fazem? Criam situações positivas para seus atletas naquilo que são bons. O que Randle é bom? Bem, em pontuar e aqui tem o exemplo de um set simples que o Thibs ama chamar depois de timeout. Pivô e Randle em situação de Horns, Randle do lado direito, o pivô corre abrindo espaço na esquerda e levando seu marcador. Randle tratora:
E não precisa ser nada super detalhado já que se você tem talento, alguns bloqueios para escolher o marcador e o time abrir espaço já pode ser suficiente. Essa jogada de bloqueios rápidos entre ball handlers/Randle também é muito usada para o Randle operar contra marcadores piores:
Então, a grande conclusão aqui (que é um tanto óbvia para ser sincera) é que Randle precisa escolher melhor os momentos que ele deve ou não atacar em situações de 1x1. No exemplo abaixo, ele está sendo marcado pelo Patrick Williams de forma agressiva e Caruso, um dos melhores defensores da liga, consegue realizar uma ajuda também agressiva já que Brunson não é uma grande ameaça no perímetro. Resultado = turnovers e contra-ataque.
Existem situações que os melhores jogadores precisarão fazer grandes cestas para os times vencerem, mas com LaVine e DeRozan em quadra, qual sentido de atacar os dois melhores defensores do time com tempo no relógio?
Repito que ele vai acertar uma parte significativa desses chutes da cabeça dele contra defensores muito bons, mas que não quer dizer que seja o melhor chute possível, como no exemplo a seguir, com Tyler Herro em quadra:
A opinião polêmica que vou trazer aqui é até simples: “let them cook”. Mas cook com mais carinho.
Se vamos ser ataque focado em 1x1 (também somos top10 em frequência e eficiência de P&R, mas isso e como essas jogadas se relacionam é conversa para outro dia ), precisamos facilitar ainda mais a vida do Randle com bloqueios no início do relógio para que ele possa operar contra uma defesa mais confusa e atacar marcadores piores/menores.
E isso passa muito pela sua pressa em querer pontuar rápido. E considerando que o Knicks é um dos times que mais investiu em estatísticas avançadas nos últimos anos, não seria surpresa que parte dessa pressa do Randle seja tentando cumprir com uma estratégia do front office e coaching staff. Mas pressa e velocidade são coisas diferentes como veremos abaixo.
O que a matemática nos diz sobre eficiência ofensiva?
Apesar do senso comum nos levar a crer que ataques com mais assistências e menos isos levam a ataques mais eficientes, isso não poderia estar mais longe da realidade:
O gráfico acima do NBA Math cruza as informações sobre passes vs rating ofensivo de quatro temporadas da década passada e mostra que “os dados de controle (passes por 100 em comparação com vitórias e rating ofensivo) parecem corroborar que as equipes boas não necessariamente passam com mais frequência (o índice de R-quadrado no gráfico de vitórias é efetivamente zero, mostrando praticamente nenhuma correlação entre os dois). E a distribuição está em todo lugar (uma coisa boa para grupos de controle), com as equipes melhores até mesmo tendendo a se agrupar no extremo inferior do número de passes feitos em comparação com a classificação ofensiva.”
Brincando apenar para facilitar a visualização dos dados (isso não é uma análise profunda e sim apenas um gráfico de dispersão), cruzando os dados entres isos/game e rating ofensivo na última temporada, ilustra que a distribuição é bem diversa e reforça a pesquisa do NBA Math de não existir correlação direta entre os termos.
“Então, Alexandre, o Knicks não tem que fazer nada para melhorar o ataque?”
Claro que não. O Knicks precisa filtrar melhor quais são as situações de 1x1 mais eficientes e, mesmo que seja ilógico, tentar acelerar o ataque o armado, mas sem ter pressa. Com exceção desses lances do Randle atacando sozinho, o Knicks não costuma ter um ataque armado rápido - o que tende a gerar menos eficiência ofensiva:
Agora a pesquisa é do FiveThirtyEight e mostra que, desde 2013-14, os ataques de meia quadra mais rápidos tender a ser mais eficientes. Dessa forma, screens feitos no ataque rapidamente para Brunson ou Randle já começarem o ataque com marcadores piores é um caminho que o Knicks deve continuar usando cada vez mais - inclusive bloqueando entre os dois.
As adições de Donte e Hart vão ajudar bastante nisso. Donte é um playmaker defensivo que rouba bolas e cria contra-ataques e Hart