E aí, RJ Barrett?!
Rising star? Eterno role player? Está pronto para pegar a direção do Knicks?
Rowan Alexander Barrett Jr. Nome imponente né. O jovem canadense divide opiniões dentre os analistas de basquete. Os simpáticos ao Knicks, acreditam que ele pode ser uma peça importante em um time campeão. Os haters, como diria Taylor Swift, vão odiar. Até mesmo falar que o Knicks deveria ter perdido mais jogos e tankado pelo Ja Morant (isso considerando que o time teve a PIOR campanha naquele ano para o projeto Zion). Falar besteira gera engajamento né?!
Eu não vou falar para vocês o que o RJ vai ser quando crescer. Sim. Crescer. Ele tem só 21 anos. Não vou, porém, deixar de dar pitaco né. Eu acredito que ele pode beliscar algumas seleções para time das estrelas. Mas meu objetivo com esse texto é trazer números e clipes para que vocês formem suas opiniões.
Eu passo longe de ser um entendido de basquete universitário, mas a impressão de grande parte dos analistas e scouts era que Barrett teria problemas em colocar a bola na cesta no nível mais avançado de competição. Traduzo parte da análise feita pelo Wasserman - analista do Bleacher Report - ainda em 2019 sobre seus números em Duke:
“Ele não tem explosão vertical ao redor da cesta, onde ele acertou apenas 52,5%; e seu aproveitamento de lance livre de 66,5% levanta dúvidas sobre seu arremesso. Apesar de seu volume ofensivo, ele ficou no 51º percentil no ataque de meia quadra.”
Agora, traduzo a projeção realista do Spencer Pearlman - consultor sobre prospectos/Phoenix Suns - para a carreira do RJ:
Jogador ofensivo ineficiente - com pontuação pelo volume e criador secundário. Eu não acho que ele será particularmente eficiente, a menos que seu chute realmente apareça, ele seja capaz de chegar à linha de FT em uma taxa alta e/ou sua finalização melhore. Algo como um jogador de nível Derozan em Toronto (embora um passador melhor). A falta de versatilidade de chute o machuca muito. Alguém para quem você pode dar a bola e ele marcará para o time / será a principal opção em um time de baixa eficiência.
Poderia continuar e trazer mais projeções pessimistas sobre a capacidade de RJ colocar a bola na cesta. Preferi trazer dois dos meus analistas preferidos e que parecem ter acertado em cheio nesse quesito até aqui.
Vamos, então, dar uma olhada na capacidade do nosso canadense preferido em colocar a bola na cesta enquanto jogador profissional:
Essa tabela do Cleaning the Glass é uma forma muito didática de ilustrar como nosso querido RJ se compara com outros alas. Em síntese, azul é ruim. Laranja é bom. Os números coloridos representam o percentil que o jogador está no ranking daquela variável dentre seus pares da mesma posição. Quanto maior o número, melhor. Isso ajuda a colocar em perspectiva e comparar.
Vamos olhar com um pouco mais de detalhe então. Para isso, a próxima tabela vai indicar a frequência dos chutes pelas mesmas regiões da tabela acima.
RJ Barrett, apesar de ser um dos alas que mais tenta chutes no aro e no short mid range, é muito ineficiente. Ignorem o raríssimo acerto, apenas para conhecimento, short mid range é um chute dessa região:
RJ adora virar de costas para os coleguinhas e tentar esses chutes difíceis. Sua seleção de arremessos precisa melhorar. Seu único atributo que é quase eficiente é seu chute de três. Importante pontuar que ele aumento a quantidade de pull-ups de três da última temporada para a atual: tenta 1.3 em 2021-22 contra 0.3 ano passado. É um chute que ele não é eficiente. Está acertando apenas 28% neles.
A sua eficiência no catch piorou, mas ainda é muito melhor. Caiu de 41% para 38%. Ele não precisa, ainda, de saber chutar saindo do drible para impactar positivamente a partida. Barrett precisa ser mais realista sobre seu jogo. Ele precisa emular atletas que conseguem ser bons mesmo não sendo grandes shooters. Jimmy Butler é uma comparação que eu gosto. Um playmaker que vive no aro e na linha de lances livres. (óbvio que a comparação não é perfeita. RJ já é melhor no perímetro e Butler é muito bom no aro e no short mid range).
Olhando um pouco mais os números, RJ tenta mais chutes de meia distância que deveria. Desde que chegou na liga, mais ou menos 30% dos seus chutes são dessa região. Quem me acompanha sabe que não sou testemunha do Morey e acho que chutes de meia distância deveriam ser abolidos. Só não acho que nenhum jogador que é muito ruim neles deveria tentar tantos.
“Então ele jamais vai conseguir ser eficiente?” Imagino que essa pergunta esteja na cabeça de vocês, leitores, e, claro, da diretoria. Honestamente, ele deve passar o resto da carreira sendo um jogador ineficiente. Mas ele pode ser menos ineficiente. Vamos dividir a temporada do RJ em duas: antes e depois de 31/12/2021. Um pouco arbitrário, mas, foi na partida contra OKC, logo após retornar do protocolo de COVID, que sua abordagem mudou um pouco.
Como vocês virão a seguir, ele não foi eficiente em nenhuma das metades. Porém, o jeito de jogar e como ele impacta o jogo mudou. Não muito, mas o suficiente para a torcida e comentaristas destacarem.
Desde 31/12, ele começou a atacar mais o aro (com o mesmo aproveitamento ruim), reduziu sua frequência de chutes de três e aumentou, levemente, seus chutes de meia distância - aproveitamentos ainda ruim, mas aprimorou um pouco. Então, como ele conseguiu melhorar, mesmo que marginalmente, seu aproveitamento geral? Primeira resposta é que sua melhora foi mínima e é uma variação que pode não aparecer se jogarmos a data da divisão alguns jogos para trás e/ou para frente. Um complemento é que seu aproveitamento de três deu um bom salto e como a metodologia de cálculo do eFG% valoriza mais o chute de três por ter um valor relativo maior, sua redução de frequência não prejudicou de forma suficiente para equilibrar com a melhora de aproveitamento. Em números absolutos, ele até aumentou quantas bolas de três ele tenta por partida (5.3 x 6.3), mas a proporção ficou menor.
Um leitor que assiste os jogos do Knicks vai me questionar: então foi só impressão que ele começou a jogar melhor?
Claro que não, jovem gafanhoto. Esse acréscimo de chutes no garrafão - seja no aro ou no short mid range - está permitindo que RJ sofra mais faltas e cobre mais lances livres. Até dia 29/12, ele batia 3.4 FTs por partida. Desde então, 7.4.
Antes, ele sofria faltas em 10,3% dos seus chutes de quadra. Na segunda “metade”, mais de 17% dos chutes são com faltas. Essa último valor o coloca no percentil 96 da comparação - o que é excelente!!! O que complica é que ele tem um PÉSSIMO aproveitamento de lances livres. O caminho para que ele possa estar mais perto da média da liga em eficiência é começar a acertar seus FTs. Pós 31/12, ele acertou míseros 68% da suas tentativas. Percentil 10 entres os alas. Surreal e vergonhoso. Mas ele tem capacidade de acertar, ao menos, 75% dos seus lances livres.
Eu preciso pontuar que o teto do RJ tem outro componente determinante além do quanto eficiente ele pode ser colocando a bola na cesta. A sua criação ofensiva para os outros.
RJ já é um playmaker acima da média para a posição e se ele continuar colocando pressão no aro, seu teto só sobe. Olhem como Ayton precisou reajustar seu posicionamento para dificultar a infiltração do canadense e RJ conseguiu um passe lindo para o roll man.
O Basketball Index coloca o RJ Barrett no percentil 90 (por posição) da sua métrica Playmaking Talent - uma métrica que agrega vários aspectos da criação ofensiva. Um número legal de colocar aqui é que 30% das infiltrações dele se tornam passes - o que o coloca no percentil 73 para posição. Suas responsabilidades ofensivas crescem a medida que ele coloca mais pressão no aro.
Não é coincidência que seu USG% subiu de 22% para 29% entre os dois períodos que estipulamos no início do texto. Nessa variação, seu AST% subiu de 11,2% para 17,2% e sua proporção AST:USG também melhorou de 0,5 para 0,59. Essa última estatística ajuda a ilustrar que as assistências no RJ não melhoraram só por ele estar mais tempo com a bola. Sua eficiência como passador melhorou - muito por tentar mais infiltrações e obrigar a defesa reagir. Não é coincidência que maior pressão no aro gera mais bons passes.
Mas RJ consegue dar bons passes mesmo em situações que ele precisa acalmar e ler o jogo. Sua altura permite que ele veja por cima de defensores e consiga criar um passe para o lado fraco do ataque com qualidade. Mesmo quando a bola não cai. Peço perdão pela qualidade do GIF, mas para facilitar a compreensão é o RJ invertendo um passe pro Cam no corner.
Mesmo que o RJ jamais se torne um jogador eficiente em seus chutes de quadra, se ele mantiver uma pressão constante no aro, seu jogo abre muito. Ele consegue sofrer faltas (precisa acertar os FTs), criar parte do ataque do time e, por respeitarem mais sua infiltração, a defesa acaba cedendo mais espaço para os chutes de três. E, apesar de não ser o melhor shooter para a posição, ele não pode ser largado sozinho quando recebe um bom passe no perímetro.
O caminho para Rowan é melhorar sua seleção de chutes - mais catch and shoots de três e mais aro - e acertar os FTs. O resto vai acabar vindo mais naturalmente. Claro que podemos ter esperanças que seu pull-up pode vir a ser consistente (34% em 2022), mas não vamos contar tanto com isso.
Sei que não abordei a sua defesa nesse texto, mas foi uma surpresa positiva depois de muitos críticos acharem que ele seria péssimo no nível profissional. Ele passa longe de ser um candidato ao time de defesa como os fãs especulavam depois de 5 jogos da temporada, mas é um bom defensor de perímetro e um reboteiro acima da média para a posição.
Para finalizar, traduzo parte da projeção otimista do Spencer para um RJ mais eficiente:
“Se ele for draftado para uma equipe que não lhe dê as chaves no primeiro dia e o faça “ganhar” suas funções de criador, acho que ele pode alcançá-lo – via muitas sessões de filmes. Começar como um criador secundário, trabalhando na tomada de decisões enquanto melhora as habilidades/atletismo reais e indo devagar.”
Eu não sei vocês, mas o Knicks está levando nessa abordagem. Ele só está começando a tomar as rédeas no meio do terceiro ano, ainda dividindo com o Randle, tem um técnico que é fã de sessões de vídeos e sem pressa com ele.
Apesar dos problemas que possuí - pouco refino perto do aro e arremesso pouco confiável - acredito que RJ possa evoluir como infiltrador e ser um segunda criador ofensivo para um bom time. Sua ética de trabalho ajuda a manter minha fé.
O Bball index o coloca como arquétipo de ballhandler secundário com suas melhores características sendo a qualidade dos seus passes e sua habilidade de chegar no aro. Quanto mais ele melhorar o que ele já tem de bom, mais a defesa precisa reagir a isso. E aí ele pode ser um shooter mais consistentes de três.
Não seria surreal imaginar que ele pode se tornar um atleta capaz de ter médias de 20 PPG; 5 APG e 6 RPG com eficiência não muito abaixo da média durante seu auge. Eu ainda acredito nisso. O espaçamento ao seu redor é ruim desde que ele chegou na liga e ele não possui nenhum pivô que não congestione o garrafão caso ele queira jogar um 1 x 1. Ele só tem 21 anos e não para de evoluir.
Eu acredito no RJ Barrett.
In Berrett i trust